Após impeachment, mercado quer ver maior força de Temer

O mercado financeiro já dá como certo que o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff será confirmado e continua otimista com a austeridade fiscal prometida pelo hoje presidente interino Michel Temer, mas quer ver demonstração de maior força política ainda neste ano, como a aprovação da proposta que limita o crescimento dos gastos públicos.

Segundo especialistas ouvidos pela Reuters, a percepção nas mesas de operação é que a relação do governo Temer com o Congresso Nacional será turbulenta, mas suficiente para garantir a aprovação do cerne do ajuste fiscal. Há, porém, risco importante de decepção.

“(O mercado) vai precisar de uma sinalização bem forte no segundo semestre deste ano de que o teto de gastos vai passar e que haverá uma ação significativa de reforma da Previdência no ano que vem”, afirmou o estrategista da corretora Nomura Securities João Pedro Ribeiro.

“O governo tem uma janela de oportunidade até as eleições de 2018 para aprovar reformas importantes. Trabalhamos com o cenário de que isso é possível e até provável, mas o governo não tem 18 meses de carta branca”, acrescentou.

A luz amarela no mercado veio das recentes dificuldades que Temer vem enfrentando para aprovar medidas no Legislativo, pelas quais já abriu mão de pontos importantes.

Exemplo é a renegociação da dívida dos Estados com a União, que previa como contrapartida dos governadores o veto a aumentos aos servidores públicos locais e que foi retirada do projeto.

Desde que assumiu interinamente a Presidência em maio, Temer adotou como carro-chefe para a recuperação econômica a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita por 20 anos o crescimento das despesas públicas à inflação do ano anterior.

Diante das dificuldades políticas, cresceu também a preocupação dos agentes financeiros de que Temer não consiga tocar adiante importantes reformas, como a da Previdência.

Muitos no mercado acreditam, porém, que ele deve adotar uma postura mais dura nas negociações após a confirmação do impeachment de Dilma.

“Um governo interino tende a ser mais político, mais flexível nas negociações”, afirmou o tesoureiro-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, para quem o dólar terminará o ano a 3,10 reais, abaixo dos cerca de 3,25 reais hoje.

O governo prevê atualmente que aprovação da PEC deve se dar neste ano, mas reconhece a possibilidade de que ocorra somente no início de 2017.

Para Ribeiro, da Nomura, o mercado precisaria ver um sinal muito forte de apoio no Congresso à PEC neste ano, como um placar forte pelo menos na Câmara dos Deputados.
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O Senado iniciou nesta quinta-feira o julgamento de Dilma, cuja conclusão deve ocorrer na madrugada de quarta-feira.

Analistas da consultoria de risco político Eurasia Group esperam que o impeachment seja confirmado com 60 ou 61 votos a favor, contra 54 necessários.

Fluxo

Como o impeachment é amplamente esperado, o mercado já precificou boa parte do evento e, assim, não se espera que a reação imediata seja forte, com alguns apostando até mesmo em uma realização de lucros que eleve o dólar e os DIs.

Um pouco mais à frente, porém, muitos agentes esperam que o impeachment sirva de gatilho para atrair recursos externos ao país, diante da indicação de que investidores estrangeiros continuam cautelosos em relação ao mercado brasileiro.

Expectativas de uma reviravolta na gestão econômica brasileira contribuíram para imprimir queda de quase 20 por cento no dólar frente ao real neste ano até a véspera.

Ainda assim, números do BC mostram saídas líquidas de quase 40 bilhões de dólares pela conta financeira neste ano.

“Por enquanto, o otimismo é um movimento de investidores locais. Quando começar o movimento dos estrangeiros, o mercado vai dar mais um passo para frente”, disse o sócio-gestor da Absolute Investimentos Roberto Campos.

Ele acredita, porém, que as entradas de recursos podem não se concretizar tão rapidamente quanto o mercado espera.

“O mercado se antecipou além do que deveria para uma entrada muito forte imediatamente após o impeachment. Na minha opinião, não é esse evento que vai fazer o estrangeiro mudar a mão: vai ser votação a votação, dia a dia no Congresso”.

Fonte: EXAME

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